segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A Educação Social em Portugal: oferta formativa, áreas de intervenção e saídas profissionais


Ruben Amorim
Apes | Associação Promotora da Educação Social
Portugal


Introdução
A área científica da educação social advém do ramo das ciências da educação, onde a pedagogia social se assume como a ciência da educação social (Serrano, 2004). É importante esta contextualização à priori, uma vez que a organização curricular dos cursos de licenciatura e mestrado em educação social, apesar de multidisciplinares, devem referir-se às ciências da educação como área científica. Contrariamente, o que acontece é, frequentemente, se aludir às ciências sociais, criando equívocos que permanecem e se enraízam desnecessariamente.
Os cursos de educação social evoluíram, hipoteticamente, em conformidade com a massificação do ensino superior em Portugal e, consequentemente, gerando o aumento da sua oferta. Todos os anos são licenciados um número infindável de educadores e educadoras sociais, de várias instituições de ensino superior como se refere à frente neste artigo. Com o aumento do desemprego, sobretudo jovem, o emprego para educadores e educadoras sociais é um bem escasso, devido à grande competitividade e desequilíbrio entre a procura e a oferta no mercado do trabalho. Paralelamente existe um problema que, de acordo com vários educadores e educadoras sociais, bem como associações profissionais da área, existe uma falta de reconhecimento profissional, o que acresce dificuldades a estes técnicos no âmbito da construção e desenvolvimento de uma carreia profissional.
Neste artigo, será apresentada a emergência dos cursos de educação social em Portugal e uma descrição da atual oferta formativa existente, quer ao nível do 1º ciclo de estudos (licenciatura), quer ao nível do 2º ciclo (mestrado). Por fim, uma pequena análise às saídas profissionais das diferentes instituições de ensino superior, categorizadas nas diferentes áreas de intervenção do e da educadora social.
Emergência da educação social em Portugal
A introdução do curso de educação social no ensino em Portugal surge, inicialmente, como técnico-profissional, posteriormente designado bacharelato e, por fim, licenciatura.
Ao nível do ensino superior, a primeira referência é ao bacharelato, entre as décadas de 80 e 90, iniciada na Escola Superior de Educação (ESE) do Porto. A primeira licenciatura surge na Universidade Portucalense Infante D. Henrique, no Porto, no ano de 1996 (Azevedo, 2011). Deste modo, conclui-se que o curso de licenciatura em educação social, em Portugal, é relativamente recente, cerca de 18 anos.
Licenciaturas em educação social
Atualmente existem 7 instituições de ensino superior públicas que lecionam, em Portugal, o curso de licenciatura em educação social, 6 das quais pertencentes ao ensino politécnico:
·         ESE Bragança;
·         ESECS Leiria;
·         ESE Porto;
·         ESE Santarém;
·         ESE Viseu;
·         ESE Viana do Castelo.
No âmbito do ensino público universitário existe apenas uma instituição de ensino superior que leciona o referido curso:
·         Universidade do Algarve.
No ensino privado existe um total de 6 instituições de ensino superior, sendo que 5 delas do ensino privado politécnico:
·         ESE de Almeida Garrett;
·         ESE de Paula Frassinetti;
·         Instituto Superior de Ciências Educativas;
·         ESE de Torres Novas;
·         ESE de Fafe.
No ensino privado de caráter universitário existe, tal como no setor público, uma única instituição de ensino superior que leciona o curso de licenciatura de educação social:
·         Universidade Portucalense Infante D. Henrique.
Assim sendo, no total, entre ensino público e privado existem 13 instituições de ensino superior que disponibilizam o curso de educação social em Portugal. Concomitantemente existem algumas delas que oferecem, além dos cursos diurnos, a opção de se frequentar o curso em regime pós-laboral (Escolas Superiores de Educação de Bragança, Leiria, Porto e Santarém). De referir, ainda, que a designação dos cursos difere em algumas instituições de ensino superior:
·         Educação Social e Desenvolvimento Comunitário (ESE Torres Novas);
·         Educação Social Gerontológica (ESE de Viana do Castelo e ESE de Fafe).
Fonte (http://www.dges.mec.pt/guias/assistres.asp, acedido em 9-1-2014)

É possível constatar que o ensino público e privado praticamente se equiparam, 7 e 6 respetivamente, no que respeita à oferta do curso de licenciatura em educação social.
Geograficamente o curso de educação social é ministrado de norte a sul do país, sendo que o Porto é a cidade onde se leciona uma maior quantidade (3) comparativamente com qualquer outra, seguindo por Lisboa (2). Porém, as regiões autónomas da Madeira e dos Açores não possuem, nas suas respetivas instituições de ensino superior, qualquer curso nesta área.

Mestrados em educação social
No 2º ciclo estudos a educação social continua presente nas apostas das instituições de ensino superior.
Das instituições de ensino superior que lecionam o curso de licenciatura, 5 têm uma oferta formativa nesta área:
·         ESE Bragança: Educação Social;
·         ESE Porto: Educação e intervenção Social;
·         ESE Santarém: Educação Social e intervenção comunitária;
·         Universidade do Algarve. Educação Social;
·         Instituto Superior de Ciências Educativas: Educação Social.

Todavia, existem mais instituições de ensino superior que, apesar de não lecionarem a licenciatura em educação social, investem na oferta de um 2º ciclo de estudos na área:

·         Universidade da Beira Interior: Educação Social e comunitária;
·         ESE Lisboa: Educação Social e intervenção comunitária;
·         Universidade de Coimbra – Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação: Educação Social, desenvolvimento e dinâmicas locais;

No total, existem 8 instituições de ensino superior que lecionam cursos de mestrado na área da educação social, sendo que 7 são públicas e apenas 1 privada.
Uma pequena referência ao facto de existirem, naturalmente, mais mestrados em áreas muito próximas da área abordada, mas para este artigo apenas foram consideradas as que possuem na sua designação o conceito de educação social.
Fonte (http://www.dges.mec.pt/guias/assistres.asp, acedido em 9-1-2014)
Áreas de intervenção e saídas profissionais
Analisando as áreas de intervenção e as saídas profissionais mencionadas pela maioria das instituições de ensino superior nos seus sites foi possível constatar a existência de um leque muito diversificado de instituições/áreas que podem integrar um ou uma educadora social nas suas equipas de trabalho.
De seguida serão categorizadas as saídas profissionais em função das áreas de intervenção:

Apoio psicossocial, prevenção, formação e reinserção social de comportamentos de risco
·         Centros de desintoxicação e instituições com intervenção no âmbito da toxicodependência;
·         Centros de reinserção social;
·         Estabelecimentos prisionais;
·         Medidas judiciais.

O trabalho social com crianças e jovens: intervenção precoce e reeducação de delinquência juvenil
·         Serviços de apoio a grupos juvenis em risco e minorias;
·         Instituições de acolhimento de crianças e jovens ou residências de menores;
·         Centros infantis;
·         Creches;
·         Programas institucionais contra a marginalidade.

A intervenção em contexto escolar ou de ocupação de tempos livres
·         Escolas;
·         ATL - centros de ocupação de tempos livres;
·         Serviços centrais e regionais do Ministério da Educação;
·         Associações de pais;
·         Centros infantis;
·         Creches;
·         Centros educativos e culturais.

Integração social do idoso e a promoção do envelhecimento ativo
·         Instituições de apoio a pessoas idosas – Lares, centros de dia e serviço de apoio domiciliário.

Integração social da pessoa com deficiência ou doença mental
·         Associações de apoio a crianças com deficiência mental.

A educação ambiental
·         Instituições ligadas ao Ambiente, Património, Educação e Cultura.

Gestão e coordenação de equipamentos sociais
·         IPSS´s;
·         Misericórdias.
Inserção profissional e educação e formação de adultos: apoio à procura estágios, de emprego e desenvolvimento de iniciativas culturais e desportivas junto da juventude
·         Escolas;
·         Escolas de adultos;
·         Serviços socioeducativos municipais;
·         Criar respostas socioeducativas inovadoras de auto-emprego.

Programas de intervenção comunitária e socioeducativa: populações em risco
·         Autarquias (projetos de intervenção e desenvolvimento local e gabinetes de intervenção local);
·         Associações de desenvolvimento local;
·         Bairros sociais;
·         ONG´s;
·         Centros de acolhimento a imigrantes e refugiados.

Mediação em processos de intervenção familiar: ajuda a famílias no quadro de resolução dos seus problemas sociais, emocionais e socioeducativos
·         Serviços da Segurança Social e Ministério da Justiça;
·         Programas de acolhimento e adoção.

Animação sócio-cultural
·         Empresas de formação e de animação;
·         Ludotecas;
·         Casa de juventude.

Participação em programas de inclusão sócio-laboral de alunos com necessidades educativas especiais
·         Escolas (gabinetes de apoio).

Intervenção socioeducativa em contexto hospitalar: prevenção e programas de planeamento familiar
·         Hospitais;
·         Centros de saúde.

Notas finais
O curso de educação social em Portugal (licenciatura) é recorrentemente designado de recente. Porém, 19 anos passaram desde o seu início e ao longo deste mesmo período muitos desafios foram superados e outros colocados.

As áreas de intervenção e as saídas profissionais do e da educadora social são diversas: infância, juventude, educação de adultos, terceira idade/envelhecimento, problemáticas sociais, entre muitas outras. Isto seria positivo se, eventualmente, não existissem outros técnicos, de categorias profissionais diferentes (Psicólogos, Técnicos de Serviço Social, Animadores Culturais, Socioculturais e Socioeducativos, entre muitos outros). Assim, num mercado de trabalho algo restrito (trabalho social), existe uma grande competitividade entre diferentes categorias profissionais, confundindo-se os limites profissionais (se é que existem).

Parece evidente que as organizações curriculares das diferentes instituições de ensino superior preparam os e as educadoras sociais para diferentes áreas de intervenção. Neste ponto é possível tirar duas conclusões muito breves, uma positiva e outra negativa: 1) riqueza de intervenção do e da educadora social, o que parece ser muito positivo e 2) a maior apetência que as diferentes ofertas formativas (na mesma área) proporcionam a técnicos com designação similar (educadores sociais).

Avizinham-se tempos difíceis no ensino superior em Portugal e a área da educação social começa a contrariar a tendência da ocupação (quase total) das vagas disponíveis. A reflexão deve acompanhar a intervenção do e da educadora social, inclusivamente em relação ao seu futuro profissional no campo do trabalho social. De salientar que, apenas uma instituição de ensino superior refere uma saída profissional muito diferente: “criar respostas socioeducativas inovadoras de auto-emprego”. É certo que não podemos ser todos empreendedores, mas quem o for estará mais perto do sucesso!
Sites das instituições de ensino superior que lecionam o curso de educação social
ESE Bragança
ESECS Leiria;
ESE Porto
ESE Santarém
ESE Viseu
ESE Viana do Castelo
Universidade do Algarve
Universidade Potucalense
ESE Almeida Garrett
http://www.eseag.pt/ensino/licenciaturas-1º-ciclo/licenciatura-em-educacao-social.html
ESE Paula Frassinetti
Instituto Superior de Ciências Educativas
ESE Fafe
ESE Torres Novas

Referências bibliográficas
AZEVEDO, S. (2011). Técnicos Superiores de Educação Social: necessidade e pertinência de um estatuto profissional. Fronteira do Caos. Porto.

serrano, g. (2004). Pedagogía Social, Educación Social: contrucción científica e intervención prática. 2ª edición. Narcea, S. A. de Ediciones. Madrid.

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